Trump e Putin: Uma Nova Aliança que Desafia a Europa e Incomoda Patriotas Brasileiros

A aliança entre os Estados Unidos e a Rússia de Putin reforça a extrema direita globalmente. No Brasil, os bolsonaristas fazem malabarismo para justificar a mudança de lado.

Ricardo de Moura Pereira

3/10/20254 min read

Segundo a Otan, no ano passado, os Estados Unidos forneceram mais de 40% da ajuda militar à Ucrânia. Nos primeiros dias de seu mandato, Trump suspendeu essa assistência e encerrou a colaboração de inteligência com a Ucrânia. A Europa não tem como preencher essa lacuna no curto prazo. Nada permanecerá como era antes.
Emmanuel Macron, presidente da França, fez um discurso à nação no qual considerou a Rússia uma ameaça para o continente, defendeu a cooperação entre as nações europeias na defesa da Ucrânia e ofereceu as armas nucleares francesas como meio de dissuasão.

Quero ter fé de que os Estados Unidos estarão conosco. "No entanto, precisamos estar preparados se isso não ocorrer", afirmou Macron após expor seu arsenal nuclear. Após a declaração, os líderes das nações da União Europeia se reuniram em Bruxelas e concordaram em elevar os investimentos em defesa para auxiliar a Ucrânia. O plano, conhecido como "ReArm Europe", tem como objetivo mobilizar até 800 bilhões de euros (cerca de R$ 4,7 trilhões) para a proteção da Ucrânia e da Europa. Para se ter uma ideia do valor, nos últimos três anos, 267 bilhões de euros foram destinados por todos os países doadores, incluindo os Estados Unidos.

Trump impulsionou a Europa para uma corrida armamentista exatamente quando os orçamentos das nações europeias se encontram limitados. Se o modelo europeu de Estado de bem-estar social já enfrentava uma crise, agora enfrentará um desafio sem precedentes. O elevado investimento na guerra será oneroso para os contribuintes europeus e, sem dúvida, terá um impacto significativo nos serviços públicos.

A repercusão mais evidente desta nova configuração será o crescimento da extrema direita nos países europeus e o colapso existencial da região. Esta desesperada corrida armamentista tende a intensificar ainda mais o neofascismo na área. Quando surgem graves crises políticas, sociais e econômicas, a extrema direita fascistóide surge como a resposta. Esta é a nova ordem global.

Para a Europa, a única opção disponível é se armar até os dentes. Em conjunto, Rússia e Estados Unidos, sob a liderança de extremistas de direita com ambição imperialista, detêm quase 90% das armas nucleares globais. Com o apoio de Trump, existe o risco de Putin invadir outros países europeus. A elite política em Moscou interpretou a declaração de Macron como uma ameaça e emitiu mensagens claras. "Uma avaliação tão imprecisa pode resultar em falhas mortais", declarou o senador russo Konstantin Kosachev. O antigo premiê russo Dmitri Medvedev fez piada com o presidente francês, afirmando que ele "não constitui uma grande ameaça".

Putin também recordou o insucesso de Napoleão Bonaparte em 1812, que invadiu Moscou com suas forças, mas foi expulso pelo exército e pelo rigoroso inverno russo. "Ainda existem indivíduos que desejam voltar à era de Napoleão, ignorando o desfecho de tudo", declarou o chefe do Kremlin. Nunca Putin se sentiu tão confortável no jogo geopolítico.

A extrema direita brasileira está em dúvida. Após os últimos anos em que a Rússia de Putin foi rotulada como "comunista" e Zelensky como um herói da democracia, nossos patriotas ficaram atônitos com a nova manobra de Donald Trump. No mês de novembro do ano passado, um grupo de parlamentares bolsonaristas embarcou para a Ucrânia com o objetivo de apoiar Zelensky e condenar o "apoio" do "comunista" Lula a Putin (desculpem o uso excessivo de aspas, mas o surrealismo bolsonarista me obriga a fazê-lo).

Os senadores Sergio Moro, do União Brasil do Paraná, Damares Alves, do Republicanos do Distrito Federal, Magno Malta, do PL do Espírito Santo, e o deputado federal Paulo Bilynskyj, do PL de São Paulo, foram alguns dos políticos que deixaram suas atribuições no parlamento. Esses representantes cruzaram o oceano para elogiar o "democrata" que, atualmente, enfrenta desdém por parte de Trump.

Reflexões Sobre o Futuro: Um Cenário Sombrio

A caravana, como não poderia deixar de ser, foi financiada pelos cofres públicos do Brasil. No entanto, alguma coisa parece ter saído do eixo nos devaneios “globalistas” de nossos patriotas. Enquanto Magno Malta e Damares optaram por um silêncio constrangedor diante das contradições, Bilynskyj e Moro decidiram ser descarados, usando contorcionismos argumentativos. Bilynskyj declarou que “a falta de habilidade política de Zelensky colocou em risco todo o esforço de guerra da Ucrânia”. Essa afirmação não faz o menor sentido. Há pouco mais de três meses, o deputado estava em Kiev, tirando fotos abraçado ao líder ucraniano.

Sergio Moro seguiu a mesma linha absurda e agiu como se estivesse perdido. Em um artigo lamentável para a Gazeta do Povo, o ex-juiz se entregou a uma série de justificativas vazias, demonstrou compreensão por Trump, mas não esclareceu a razão de sua mudança drástica de opinião em relação à guerra.

Nossos vira-latas com complexo de inferioridade não precisam de justificativas maiores e continuarão a seguir o instinto de agradar o Tio Sam. Putin e Trump estão testando os limites das democracias e ditando o tom do avanço da extrema direita pelo mundo. Ambos compartilham uma visão de mundo semelhante, estão alinhados em questões morais e desprezam a ideia de globalização. Vamos aguardar os próximos capítulos desse jogo geopolítico. Aqui de onde estou, o futuro que se desenha parece bem sombrio.

Fonte - Intercept Brasil