Taxação de Trump pode tornar 'negócio da China' para o agro brasileiro

Entenda como a política econômica dos EUA pode impactar as exportações agrícolas brasileiras e fortalecer os laços com o gigante asiático

Ricardo de Moura Pereira

3/24/20253 min read

Nos últimos anos, o setor agrícola brasileiro tem se consolidado como um dos principais motores da economia nacional, impulsionado principalmente pelas exportações. No entanto, o cenário global está prestes a sofrer alterações significativas que podem redirecionar ainda mais os fluxos comerciais do agronegócio brasileiro. A possibilidade de Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos em 2024 traz consigo a ameaça de uma política protecionista e tarifária agressiva, o que poderia abrir novas oportunidades para o Brasil no mercado chinês.

A Política de Tarifas de Trump e Seus Impactos Globais

Donald Trump sempre foi um defensor ferrenho de políticas comerciais protecionistas, com destaque para a imposição de tarifas sobre produtos importados. Durante seu mandato entre 2017 e 2021, ele aplicou taxas elevadas sobre uma série de produtos chineses, além de impor barreiras também a países aliados, como o Canadá e membros da União Europeia. Essa estratégia visava proteger a indústria americana e reduzir o déficit comercial dos EUA, mas acabou gerando tensões diplomáticas e desequilibrando cadeias globais de suprimentos.

Caso Trump retorne ao poder em 2024, há expectativa de que ele retome ou até intensifique essas medidas. Para o agronegócio brasileiro, isso pode representar uma oportunidade única. Com potenciais tarifas americanas dificultando a entrada de commodities agrícolas nos EUA, a China – principal parceira comercial do Brasil – pode buscar alternativas mais acessíveis e confiáveis, reforçando sua dependência do mercado brasileiro.

O Papel da China no Agronegócio Brasileiro

A China já é o maior destino das exportações agrícolas brasileiras, comprando grandes volumes de soja, carne bovina, milho e outros produtos. Esse relacionamento comercial só tende a se fortalecer caso os EUA adotem uma postura mais hostil sob a liderança de Trump. Sem acesso facilitado ao mercado americano, os chineses podem priorizar ainda mais suas negociações com o Brasil, ampliando os volumes adquiridos e, possivelmente, oferecendo melhores condições comerciais.

Além disso, o Brasil possui vantagens competitivas em relação aos EUA quando se trata de atender à demanda chinesa. A proximidade geográfica (em comparação com outros grandes produtores) e a capacidade de produção em larga escala colocam o país em posição privilegiada para capitalizar esse momento de incerteza no comércio internacional.

Desafios e Riscos para o Agro Brasileiro

Apesar das oportunidades, o cenário não está isento de desafios. Um aumento nas exportações para a China pode expor o Brasil a pressões por parte de outros mercados importantes, como a União Europeia, que já demonstra preocupação com práticas ambientais e trabalhistas no setor agrícola brasileiro. Além disso, depender excessivamente de um único parceiro comercial pode ser arriscado, especialmente em um contexto de volatilidade geopolítica.

Outro ponto a considerar é a infraestrutura logística do Brasil. Para aproveitar plenamente essa janela de oportunidade, será necessário investir em portos, rodovias e ferrovias para garantir que a produção brasileira chegue ao mercado chinês de forma eficiente e competitiva. Sem essas melhorias, o país corre o risco de perder negócios para concorrentes mais bem preparados.

Perspectivas Futuras

O possível retorno de Trump ao poder representa uma mudança significativa no tabuleiro geopolítico e econômico global. Para o agronegócio brasileiro, isso pode significar tanto uma oportunidade quanto um desafio. Por um lado, o enfraquecimento das relações comerciais entre China e EUA pode consolidar ainda mais a posição do Brasil como fornecedor estratégico para Pequim. Por outro, será necessário equilibrar essa relação sem comprometer outros mercados e, ao mesmo tempo, investir em infraestrutura e práticas sustentáveis para garantir a longevidade dessa parceria.

Enquanto isso, o governo brasileiro precisa estar atento às mudanças no cenário internacional e preparar o setor agrícola para aproveitar as oportunidades que surgirem. Em um mundo cada vez mais interconectado – mas também fragmentado por disputas comerciais –, o Brasil tem a chance de se firmar como um player indispensável no agronegócio global, especialmente se souber navegar pelas águas turbulentas da política econômica internacional.

No fim das contas, a "taxação de Trump" pode sim se transformar no "negócio da China" para o agro brasileiro – desde que o país esteja pronto para abraçar essa oportunidade com planejamento e visão estratégica.

Fonte da matéria UOL