Tarifas de Trump: O Impacto no Aço e Alumínio do Brasil e Outros Exportadores

Como as medidas protecionistas dos EUA alteraram o comércio global, afetando economias dependentes e redesenhando estratégias internacionais.

Ricardo de Moura Pereira

3/12/20254 min read

Quando o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas sobre importações de aço e alumínio em 2018, o mundo assistiu a um momento decisivo na política comercial global. Sob a justificativa de proteger a segurança nacional e revitalizar indústrias domésticas, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados de diversos países, incluindo grandes parceiros comerciais como o Brasil, Canadá, União Europeia e México. Essa medida gerou tensões diplomáticas, impactos econômicos significativos e mudanças nas cadeias globais de suprimentos.

Mas como essas tarifas afetaram especificamente o Brasil — um dos maiores exportadores de aço e alumínio para os EUA — e outros países? E quais foram as consequências de longo prazo para o comércio internacional? Neste artigo, exploramos os efeitos das políticas de Trump e seu legado no setor.

O Impacto Inicial: Choque para Exportadores Brasileiros

O Brasil, como um dos principais fornecedores de aço para os Estados Unidos, foi duramente atingido pelas tarifas. Antes da implementação das medidas, o país exportava cerca de 3,6 milhões de toneladas de aço por ano para o mercado americano, representando uma fatia significativa das receitas do setor siderúrgico brasileiro. Com a introdução das tarifas, as exportações caíram drasticamente, prejudicando empresas e trabalhadores do setor.

Embora o Brasil tenha sido temporariamente isento das tarifas em março de 2018, a suspensão foi revogada poucos meses depois, levando a uma nova onda de incertezas. Para contornar as barreiras, algumas empresas brasileiras passaram a investir em operações nos EUA ou a buscar mercados alternativos, como a Europa e a Ásia. No entanto, essas estratégias nem sempre compensaram as perdas causadas pelo fechamento do mercado americano.

Além disso, a instabilidade gerada pelas tarifas prejudicou não apenas os produtores de aço e alumínio, mas também toda a cadeia produtiva associada, desde mineradoras até indústrias de transformação. O aumento dos custos de produção afetou setores que dependem desses insumos, como automotivo, construção civil e bens de consumo.

Outros Países na Linha de Fogo: Retaliações e Redirecionamento de Mercados

O Brasil não foi o único país a sentir os efeitos das tarifas de Trump. Nações como Canadá, México, Coreia do Sul e membros da União Europeia também enfrentaram desafios semelhantes. As tarifas geraram ondas de retaliação, com vários países impondo suas próprias taxas sobre produtos americanos, como carne bovina, soja e motocicletas Harley-Davidson.

Essa guerra comercial forçou muitos exportadores a redirecionar seus produtos para outros mercados. Por exemplo, a China, embora inicialmente alvo das tarifas, acabou se beneficiando indiretamente ao absorver parte do excesso de oferta global de aço e alumínio. No entanto, isso também intensificou a competição em mercados emergentes, pressionando preços e margens de lucro.

Para alguns países, como o Canadá e o México, as tarifas foram eventualmente suspensas após negociações que culminaram na assinatura do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), substituto do NAFTA. No entanto, o dano já havia sido feito, com setores industriais sofrendo perdas significativas durante o período de incerteza.

As Consequências para os EUA: Um Tiro que Saiu Pela Culatra?

Embora Trump argumentasse que as tarifas protegeriam empregos americanos e fortaleceriam a indústria local, muitos economistas apontam que os efeitos foram mistos. De fato, alguns produtores de aço e alumínio nos EUA viram suas margens de lucro aumentarem temporariamente. No entanto, o aumento dos custos de matérias-primas prejudicou indústrias que dependem desses materiais, como a automotiva e a de construção, levando à eliminação de milhares de empregos em setores a jusante.

Além disso, a decisão de impor tarifas alimentou tensões diplomáticas com aliados tradicionais, enfraquecendo as relações comerciais dos EUA. Em vez de fortalecer a posição americana no cenário global, as medidas reforçaram a percepção de que os EUA estavam adotando uma postura unilateralista, o que abriu espaço para acordos comerciais alternativos liderados por outras potências, como a China e a União Europeia.

Mesmo após a saída de Trump da presidência, em 2021, muitas de suas políticas comerciais continuaram a moldar o cenário global. Embora o governo Biden tenha buscado reparar algumas das relações danificadas, as tarifas sobre aço e alumínio permaneceram em vigor para muitos países, incluindo o Brasil, até acordos específicos serem negociados.

Em outubro de 2021, por exemplo, os EUA e a União Europeia chegaram a um acordo para suspender as tarifas recíprocas sobre aço e alumínio, permitindo cotas limitadas de importação. No caso do Brasil, as negociações seguiram um caminho mais lento, refletindo as complexidades das relações bilaterais entre os dois países.

Para o Brasil e outros exportadores, o legado das tarifas de Trump serve como um lembrete da vulnerabilidade das cadeias globais de suprimentos e da importância de diversificar mercados. Ao mesmo tempo, o episódio destacou a necessidade de maior integração regional e cooperação entre países emergentes para enfrentar pressões comerciais externas.

As tarifas de Trump sobre o aço e alumínio deixaram marcas profundas no comércio global, expondo fragilidades e oportunidades para países exportadores como o Brasil. Enquanto algumas indústrias conseguiram se adaptar, outras ainda lutam para recuperar os níveis pré-tarifas de produção e exportação.

No futuro, será fundamental que os governos adotem políticas comerciais mais equilibradas, que promovam tanto a competitividade quanto a cooperação internacional. Para o Brasil, isso significa não apenas buscar novos mercados, mas também investir em inovação e sustentabilidade para garantir que o setor de aço e alumínio permaneça competitivo em um mundo cada vez mais interconectado. Afinal, como mostrou o caso das tarifas de Trump, o comércio global é um jogo complexo, onde decisões de um país podem ter repercussões amplas e duradouras para todos os envolvidos.