Qual é o objetivo de Putin ao enviar Lula, Xi e líderes do Sul Global para Moscou?

Durante a administração de Vladimir Putin, as comemorações do Dia da Vitória se ampliaram e ganharam maior relevância.

Ricardo de Moura Pereira

5/8/20253 min read

No mínimo 20 líderes internacionais concordaram com o convite de Vladimir Putin para comparecer às comemorações em Moscou em comemoração aos 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Os chineses Xi Jinping e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão previstos para chegar à capital russa nos próximos dias. A previsão é que Lula chegue nesta quinta-feira (8/5). O presidente do Brasil, em seguida, viaja para Pequim, onde realizará uma visita oficial à China e participará do IV Fórum China-CELAC nos dias 12 e 13 de maio.

O convite da Rússia para marcar presença no evento conhecido como Dia da Vitória, comemorado anualmente em várias regiões do país, foi igualmente aceito por líderes de nações do chamado Sul Global, incluindo os presidentes de Cuba, Sérvia, Eslováquia, Indonésia e das ex-repúblicas soviéticas.

Segundo especialistas em política externa russa consultados pela BBC Brasil, Putin utiliza a data festiva para fomentar o patriotismo entre os russos, enquanto tenta demonstrar ao mundo que não está isolado e vem consolidando sua posição como uma liderança alternativa ao Ocidente.

Neste momento, é crucial para a Rússia evidenciar que há nações que integram sua esfera de influência, conforme avalia Gulnaz Sharafutdinova, diretora do Instituto Rússia do King's College London. E o direcionamento para o Sul Global se alinha à narrativa do Kremlin de se apresentar como uma opção ao Ocidente imperialista, conclui.

O desfile militar realizado na Praça Vermelha é o evento principal em comemoração ao Dia da Vitória. Durante a administração de Vladimir Putin, a partir de 2008, a parada tornou-se anual, representando a força das tropas e equipamentos militares, além de ser uma oportunidade para recordar as perdas da Segunda Guerra Mundial.

Segundo Sergey Radchenko, historiador e docente da Universidade Johns Hopkins, o resgate do passado é um elemento crucial para o Kremlin. "O 9 de maio é uma data significativa na Rússia e um momento simbólico para Putin", afirma. "Pouco na história da Rússia se assemelha à maneira como a vitória na Segunda Guerra Mundial é percebida no país."

De acordo com Radchenko, o momento é empregado para canalizar o sentimento patriótico do povo e propagar a imagem de uma Rússia vitoriosa e forte — um aspecto que ganhou ainda mais relevância para o governo desde o começo da guerra contra a Ucrânia.

O historiador e docente da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Johns Hopkins afirma que as recordações da vitória soviética sobre a Alemanha nazista continuam a legitimar as políticas atuais do Estado russo e estabelecer conexões entre o passado e o presente.

"Os meios de comunicação russos propagam a ideia de que o governo está combatendo o nazismo na Ucrânia da mesma forma que fez entre 1941 e 1945, e que esta também é uma batalha patriótica que requer sacrifícios", diz. Certamente, o principal propósito do Kremlin com as visitas é estreitar relações e se estabelecer como um ator forte, pertinente e bem interligado, afirma Radchenko.

Segundo o especialista, a presença de Xi Jinping ao lado de Putin durante o desfile transmite uma imagem de aliança para o mundo inteiro. Além disso, a presença de nações como o Brasil reforça a percepção de que o Sul Global apoia a Rússia. Simultaneamente, segundo Gulnaz Sharafutdinova, a presença de líderes estrangeiros serve ao Kremlin para reforçar a legitimidade de sua política externa nos últimos anos.

 #Rússia, #Lula, #Putin, #Geolopolítica