Perfil organizacional, interesses territoriais que levaram ao fim da trégua entre CV e PCC

Desde o começo da semana,'salves' contendo declarações de guerra mútua começaram a ser rastreados por agentes de investigação

PCCCV

Ricardo de Moura Pereira

4/30/20252 min read

Ao ser informado pelo seu advogado sobre a oferta de trégua feita pelo Comando Vermelho (CV), Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal, membro da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), declarou apoiar as negociações, contudo, mostrou-se inquieto. Afirmou Funchal ao seu defensor no auditório da Penitenciária Federal de Brasília em janeiro, conforme evidenciado por um relatório da Secretaria Nacional de Políticas Penitenciárias (Senappen) obtido pelo GLOBO.

Certo e realizado. A assinatura do armistício semanas mais tarde pelos líderes das duas facções não perdurou muito: as "regionalidades" mencionadas por Funchal foram as responsáveis pelo término do acordo de paz em apenas dois meses. Desde o começo da semana, mensagens do crime, conhecidas como "salves", que fornecem orientações aos comparsas, contendo declarações de guerra mútua, começaram a ser interceptadas por agentes de investigação.

De acordo com as autoridades, as disputas locais que impediram o acordo costurado nas prisões foram a principal razão para a ruptura. O cessar-fogo, anunciado em um "salve" assinado pelas duas facções em 25 de fevereiro, não foi implementado de maneira uniforme nem simultânea em todo o país. Por exemplo, em estados como Mato Grosso do Sul e Acre, o acordo de paz teve impactos evidentes na segurança pública. Em outros, como Mato Grosso, Ceará e Bahia, as facções decidiram, desde o começo, continuar a guerra.

Lincoln Gakiya, promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, acredita que o rompimento ocorre principalmente pela complexidade de estabelecer uma trégua em quadrilhas com diferentes perfis organizacionais. O PCC possui uma estrutura hierárquica definida, uma estrutura piramidal rígida e uma cúpula que determina as diretrizes a serem seguidas por todos os integrantes - a desobediência pode resultar até mesmo em expulsão e morte. Por outro lado, o CV opera em um modelo parecido com o de franquias nos diversos estados, com líderes regionais com autonomia suficiente para não seguir as determinações dos chefes do Rio.

Diferentemente da pausa anunciada em conjunto, os "salves" que notificam os membros sobre o rompimento, notado desde ontem, foram divulgados de maneira isolada. O comunicado do PCC afirma que o propósito do acordo era diminuir os homicídios, que prejudicam os negócios, e revela que ele foi encerrado por "motivos que atentam contra a ética criminal".

Fonte O Globo