O pseudônimo de Leão XIV lançou um livro sobre a possibilidade da existência de Deus.

Em 1990, o matemático Robert Ward Prevost publicou a obra "Probabilidade e Explanação Teísta".

Ricardo de Moura Pereira

5/9/20254 min read

O matemático Robert Ward Prevost escreveu, em 1990, o livro “Probabilidade e Explanação Teísta”, no qual aborda a probabilidade da existência de Deus. Ele é homônimo do também americano Robert Prevost, nomeado papa Leão XIV na quinta-feira (8).

(CORREÇÃO: O g1 errou ao informar que o matemático Robert Francis Prevost, que viria a se tornar Leão XIV, publicou um livro sobre probabilidade da existência de Deus. O texto é de autoria de um homônimo. O autor é um americano também chamado Robert Prevost, que, assim como o agora pontífice, formou-se em matemática. O erro foi corrigido às 15h38 de 9 de maio. Pelo erro, pedimos desculpas.)

Robert Francis Prevost, conhecido como papa: Graduou-se em matemática em 1977, aos 22 anos, na Universidade Villanova, localizada na Pensilvânia (EUA). Ele concluiu o mestrado em Divindade na Catholic Theological Union, em Chicago, no mesmo ano em que concluiu o curso (1982). Posteriormente, conquistou os diplomas de graduação (1984) e de doutorado (1987) em direito canônico pelo Pontifício Colégio de Santo Tomás de Aquino. Décadas mais tarde, em 2014, foi novamente agraciado pela Universidade Villanova, que lhe atribuiu o título de Doutor Honoris Causa em Humanidades.

Robert Ward Prevost, o papa homônimo: Também de origem americana, ao longo de sua trajetória profissional, assinou suas obras sob o pseudônimo Robert Prevost. Seus livros abordam, entre outros assuntos, a probabilidade nas explicações sobre a existência de Deus e o embate entre fé e ciência no ambiente escolar.

No ano de 1990, Robert W. Prevost publicou "Probabilidade e Explicação Teísta", publicado pela Editora Clarendon Press, vinculada à Universidade de Oxford. Neste livro, o escritor examina de maneira crítica o funcionamento da "explicação teísta" na filosofia moderna da religião, isto é, a tentativa de explicar o mundo e a vida com base na existência de Deus. Também aborda como essa teoria pode estar conectada à denominada "teologia natural", que busca compreender Deus através da razão e da observação do mundo, sem recorrer a revelações religiosas.

Na primeira seção do livro, Prevost examina as concepções de dois pensadores proeminentes: Richard Swinburne e Basil Mitchell. "Este livro representa a primeira análise completa desses dois métodos de justificação da fé religiosa", afirmou no primeiro capítulo.

Prevost ataca particularmente Swinburne por dois motivos:

1- Uso do teorema de Bayes:

Que é? O teorema é um método matemático utilizado para estimar a chance de um evento acontecer, fundamentado em dados prévios ou em novas evidências. Ele auxilia na atualização da probabilidade de algo, conforme novos dados se tornam disponíveis. Atualmente, essa fórmula é aplicada em setores como medicina (diagnóstico de enfermidades) e finanças (avaliação de riscos). Normalmente, é útil em circunstâncias onde a incerteza é elevada e a informação é constantemente atualizada.

Portanto, Swinburne, que foi criticado por Prevost, emprega esse teorema na tentativa de provar que é plausível crer em Deus. Então, o escritor afirma que esse princípio matemático não se aplica ao contexto divino. No livro, ele afirma que "o teorema de Bayes não pode ser aplicado para estabelecer os critérios que avaliam a probabilidade da hipótese teísta", antes de expor seus argumentos matemáticos.

2- Foco limitado na explicação das causas:

Swinburne busca justificar a presença de Deus apenas com base em causas e consequências, como se fosse uma explicação de natureza científica. Prevost considera essa uma visão muito restrita - defende que o teísmo deve ser abrangente, tratando do significado da vida, dos princípios morais e dos eventos históricos.

Em outras palavras, para Robert W. Prevost, não é suficiente afirmar que Deus é a origem de todas as coisas; é necessário levar em conta o propósito e o sentido que Ele atribuiria ao mundo. Em sua obra, o autor homônimo do papa argumenta que, além das explicações formais (que envolvem lógica e normas matemáticas), é crucial empregar também o raciocínio informal - aquele que leva em conta o contexto histórico e emprega argumentos que vão além das ciências exatas. Esta perspectiva é mais subjetiva, adaptável e fundamentada em intuições, vivências pessoais e tradições.

De acordo com ele, critérios como esses podem auxiliar na avaliação se a presença de Deus realmente elucida o universo. No desfecho do livro, o escritor sugere uma concepção de Deus mais robusta: um Deus "individual", capaz de dar significado às nossas existências e aos princípios éticos.

Ciência ou crença no ambiente escolar?

Robert W. em um artigo publicado em março de 1992 no "Journal of Church and State". Prevost examina a evolução do conflito entre ciência e religião ao longo dos anos nos Estados Unidos. Ele evidencia que, em várias situações, as justificativas religiosas foram predominantes no debate durante anos. No entanto, quando uma explicação científica mais persuasiva surgia, o Estado geralmente a adotava oficialmente. De acordo com o escritor, isso acabaria por deslocar as perspectivas religiosas do foco dos debates públicos, como se fossem cada vez menos pertinentes.

Prevost adverte que essa tendência poderia resultar em implicações. Ao dar prioridade a explicações científicas em vez de religiosas, o governo poderia passar a mensagem de que somente a ciência possui valor. Portanto, no artigo de 1992, ele argumenta que as instituições de ensino deveriam ter "muito cuidado" ao tratar desses assuntos. Ele acredita que o ensino da ciência é crucial, porém é necessário reconhecer que as convicções religiosas também são componentes da vivência humana e buscar maneiras balanceadas de tratá-las no ambiente público.

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