"Nacionalismo Reforçado: O Efeito Trump na Popularidade da Esquerda Mexicana"
"O Paradoxo Trump-AMLO: Como a Hostilidade Fortaleceu o Líder Mexicano"
TRUMPPOLÍTICAPRESIDENTE DO MÉXICO
Ricardo de Moura Pereira
4/6/20252 min read


Desde que Donald Trump assumiu a Casa Branca em 2017 durante seu primeiro mandato, o cenário político mexicano passou por transformações significativas, especialmente na forma como o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador (AMLO) conseguiu capitalizar politicamente a partir da retórica e ações de seu homólogo americano.
AMLO, que assumiu a presidência do México em dezembro de 2018 com uma plataforma de esquerda, conseguiu converter a constante pressão e as declarações controversas de Trump sobre o México em uma oportunidade para solidificar seu apoio interno. As ameaças de tarifas, as demandas sobre imigração e a retórica frequentemente hostil de Trump permitiram que AMLO se posicionasse como um defensor da soberania mexicana, sem precisar adotar uma postura abertamente confrontacional.
A estratégia de AMLO foi notável: enquanto mantinha publicamente uma relação diplomática com Washington, ele transformou internamente cada crítica ou pressão de Trump em combustível para seu discurso nacionalista. Isso criou um paradoxo interessante onde, mesmo cedendo em questões como o controle migratório na fronteira sul do México, AMLO era visto por muitos mexicanos como um líder que não se curvava completamente às exigências americanas.
O ponto culminante dessa dinâmica foi o acordo USMCA (T-MEC no México), que substituiu o NAFTA. Enquanto Trump celebrava o acordo como uma vitória para os Estados Unidos, AMLO o apresentou internamente como uma conquista diplomática mexicana e uma prova de que seu governo poderia negociar em termos favoráveis mesmo sob intensa pressão.
As pesquisas de opinião durante o período mostraram um fenômeno incomum: quanto mais agressiva era a postura de Trump em relação ao México, mais os índices de aprovação de AMLO tendiam a se fortalecer, especialmente entre setores da população tradicionalmente céticos quanto à aproximação com os Estados Unidos.
Além disso, AMLO soube utilizar habilmente as comparações com Trump. Enquanto o presidente americano era frequentemente retratado pela mídia internacional como imprevisível e divisivo, AMLO projetava uma imagem de estabilidade e unidade nacional, fortalecendo sua narrativa de "transformação" do México.
Com o retorno de Trump à presidência em 2025, analistas políticos observam com interesse como essa dinâmica poderá evoluir, considerando que AMLO concluiu seu mandato em outubro de 2024 com níveis de aprovação historicamente altos para um presidente mexicano em final de mandato, em grande parte beneficiado por sua habilidade em transformar a pressão externa em capital político interno.
Vale ressaltar que esta análise se baseia em informações até outubro de 2024, e desenvolvimentos mais recentes podem ter alterado esse cenário político entre os dois países.