"Lamentações Digitais: Vizinhos Perdem a Vida e a Dor é Compartilhada no Facebook

Funerais foram realizados para as centenas de mortos

3/9/20252 min read

O presidente interino da Síria, Ahmed Sharaa, convocou a unidade nacional neste domingo (09/03), em meio à escalada de violência e assassinatos por vingança nas áreas que foram leais ao ex-presidente Bashar al-Assad.

Esse episódio é considerado o mais grave desde a deposição de Assad, que governou o país desde 2000 até sua queda em dezembro de 2024. Centenas de pessoas estão fugindo de suas residências nas províncias costeiras de Latakia e Tartus, conhecidas por seu apoio ao ex-líder.

Moradores relataram cenas aterradoras de saques e assassinatos em massa, incluindo tragédias envolvendo crianças. Em Hai Al Kusour, um bairro predominantemente alauíta na cidade de Banias, as ruas estão repletas de corpos, empilhados e cobertos de sangue.

Os alauítas, que representam cerca de 10% da população síria e pertencem a uma ramificação do islamismo xiita, têm enfrentado uma crescente hostilidade em um país majoritariamente sunita. Testemunhas afirmam que homens de várias idades foram mortos a tiros nas ruas.

A correspondente da BBC em Damasco relata que, na sexta-feira (07/03), o medo era tão intenso que as pessoas evitavam olhar pela janela. Embora a conexão com a internet seja instável, quando os moradores conseguem se conectar, muitas vezes descobrem as mortes de vizinhos através de postagens no Facebook, intensificando a sensação de desamparo e terror na comunidade.

Ayman Fares compartilhou à BBC como sua recente prisão o salvou durante a onda de violência em sua cidade. Em agosto de 2023, ele havia publicado um vídeo em sua conta no Facebook criticando o governo corrupto de Bashar al-Assad. Após isso, foi detido, mas foi libertado após a queda de Assad em dezembro, quando forças islamistas realizaram uma operação de resgate para prisioneiros.

Na confusão que se seguiu, os combatentes reconheceram Fares, o poupando da morte, mas não dos saques que ocorreram em sua vizinhança. Ele relatou que seus carros foram levados e que as invasões a outras casas continuaram. "Eram estranhos, não consegui identificar sua origem ou idioma, mas pareciam uzbeques ou chechenos", disse Fares por telefone. "Alguns sírios estavam com eles, mas não faziam parte das forças oficiais de segurança. Civis também estavam envolvidos nos assassinatos", acrescentou.

Fares testemunhou cenas horríveis, descrevendo famílias sendo mortas em suas casas e mulheres e crianças cobertas de sangue. Algumas tentaram se esconder nos telhados, mas não conseguiram escapar do massacre. "É horrível", lamentou.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR) reportou 745 civis mortos nas cidades costeiras de Latakia, Jableh e Banias, além de 300 membros das forças de segurança e remanescentes do regime de Assad que também perderam a vida em confrontos. No entanto, a BBC não conseguiu verificar esses números de forma independente.

Fares afirmou que a situação começou a se estabilizar quando o Exército sírio e as forças de segurança chegaram a Banias, expulsando outras facções da cidade e abrindo corredores para que as famílias pudessem acessar áreas seguras. Outro morador da cidade, que pediu anonimato, confirmou o relato de Fares. Ele, sua esposa e a filha de 14 anos conseguiram fugir de casa com a ajuda das forças de segurança.

Fonte - BBC News Brasil