Brasil Entre Dois Marcos Históricos: Do Golpe de 1964 à Condenação de Bolsonaro

Com Bolsonaro réu no STF, país revive debates sobre impunidade e responsabilização de autoridades por crimes políticos e antidemocráticos

NOTÍCIASPOLÍTICABOLSONAROSTFJUSTIÇAGOLPE DE ESTADO

Ricardo de Moura Pereira

4/3/20252 min read

Enquanto o Brasil relembra os 61 anos do golpe militar de 1964, outro momento histórico ganha destaque: a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete ex-integrantes de seu governo por tentativa de golpe contra a democracia em 2023.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa Bolsonaro de liderar uma organização criminosa que planejou minar as instituições democráticas. O caso reacende debates sobre justiça, impunidade e o legado autoritário no país.

Um Marco na História Democrática do Brasil

Para Aline Atassio, cientista política da Universidade Estadual de Santa Cruz, o julgamento representa um momento crucial. "A população brasileira aguarda um fechamento não apenas da ditadura de 1964, mas de uma cultura política marcada pela militarização", afirma.

Ela destaca que, diferentemente de episódios anteriores, agora há a possibilidade real de punição para militares e autoridades envolvidos em ações golpistas. "Não se trata de revanchismo, mas de justiça. Bolsonaro e seus aliados tiveram amplo direito de defesa, algo que muitas vítimas da ditadura nunca tiveram", ressalta.

A Negligência do Passado e os Riscos do Presente

Mayra Goulart, professora de ciência política da UFRJ, lembra que a transição democrática brasileira foi marcada por acordos que permitiram a permanência de grupos nostálgicos da ditadura dentro das Forças Armadas e da sociedade. "Esses setores nunca foram devidamente responsabilizados, o que alimentou discursos autoritários e tentativas de desestabilização", explica.

Para ela, a condenação de Bolsonaro deve vir acompanhada de um esforço educativo. "Precisamos discutir democracia nas escolas, nos locais de trabalho. Esses valores não podem ficar restritos a círculos acadêmicos", defende.

O Processo Judicial e a Materialidade do Crime

Pedro Serrano, jurista e especialista em direito constitucional, avalia que o STF agiu com rigor técnico. "Não há perseguição. Bolsonaro está em liberdade, com ampla defesa. O que existe é um processo baseado em provas robustas", afirma. Ele destaca que as investigações revelaram uma estrutura criminosa ativa desde antes dos ataques de 8 de janeiro. "Não foi um evento isolado, mas uma conspiração bem articulada", diz.

O Que Esperar do Futuro?

Apesar das possíveis reviravoltas jurídicas, especialistas acreditam que a condenação de Bolsonaro é um caminho sem volta. "As provas são sólidas, e a maioria da população apoia a punição", afirma Atassio. O julgamento não apenas responsabiliza os envolvidos, mas também sinaliza que o país está disposto a defender sua democracia — mesmo que décadas depois do último regime autoritário.