Brasil Diante das Novas Tarifas de Trump: Retaliação ou Negociação?

Especialistas alertam que medidas de represália podem ser prejudiciais, enquanto governo busca negociação para proteger interesses comerciais.

NOTÍCIASPOLÍTICAPRESIDENTE DOS EUATRUMP

Ricardo de Moura Pereira

4/3/20252 min read

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está analisando como responder à decisão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de impor uma nova tarifa de importação sobre produtos brasileiros. A medida, que entra em vigor neste sábado (5/4), estabelece uma taxa adicional de 10% sobre todas as exportações do Brasil destinadas ao mercado americano.

A ação de Trump não se limita ao Brasil — outros países também foram afetados pela política protecionista, justificada pela promessa de estimular a indústria e o emprego nos Estados Unidos. No entanto, especialistas em comércio exterior destacam que o Brasil possui uma estratégia poderosa para pressionar por uma solução negociada: a possibilidade de retaliar na área de propriedade intelectual.

A Nova Lei e a Ameaça de Retaliação

Recentemente, o Congresso Nacional aprovou uma legislação que amplia as ferramentas disponíveis para o Brasil reagir a barreiras comerciais consideradas abusivas. A nova lei permite que o país adote medidas de retaliação sem depender de autorização prévia da Organização Mundial do Comércio (OMC), que atualmente enfrenta uma crise de funcionamento.

No caso dos EUA, o Brasil poderia suspender o pagamento de royalties ou até mesmo quebrar patentes de produtos farmacêuticos e culturais, como filmes e softwares. No entanto, analistas alertam que o uso efetivo dessa medida poderia desencadear uma guerra comercial desgastante, com possíveis represálias americanas ainda mais severas.

Retaliação como Estratégia, Não como Ação Imediata

Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que a ameaça de retaliação deve ser usada com cautela, servindo mais como um instrumento de pressão do que como uma ação concreta.

"A retaliação sobre propriedade intelectual só deveria ser usada para fortalecer a posição do Brasil em uma eventual negociação com os Estados Unidos", explica Ferraz. "É uma medida extrema, que precisa ser bem calculada. Enfrentar os EUA diretamente em uma guerra comercial seria um suicídio econômico e político."

O Precedente de 2009

Essa não é a primeira vez que o Brasil se vê diante de uma disputa comercial com os EUA. Em 2009, após anos de litígio na OMC, o país conseguiu provar que os subsídios americanos ao algodão prejudicavam as exportações brasileiras de forma desleal. Na época, o Brasil recebeu autorização para retaliar, mas optou por usar essa possibilidade como moeda de troca em um acordo com o governo dos EUA.

Agora, o desafio é semelhante: o governo Lula precisa equilibrar a defesa dos interesses nacionais sem escalar o conflito. Enquanto a ameaça de retaliação pode ser uma carta valiosa na mesa de negociações, especialistas concordam que o caminho mais seguro é buscar um entendimento diplomático, evitando medidas que possam prejudicar ainda mais a relação comercial entre os dois países.

Diante das novas tarifas impostas por Trump, o Brasil tem opções estratégicas, mas o risco de uma guerra comercial exige prudência. A melhor saída, segundo analistas, é usar a legislação recente como instrumento de pressão, enquanto busca alternativas negociadas para proteger sua economia sem provocar uma crise maior.