Bolsonaro critica velocidade da justiça após STF agendar julgamento por golpismo

Presidente reage à decisão da Suprema Corte e acusa sistema judicial de "correr mais rápido do que a luz" em seu processo

Ricardo de Moura Pereira

3/14/20253 min read

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a usar o tom irônico e provocativo em suas declarações ao criticar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de marcar com "velocidade da luz" o julgamento que pode torná-lo réu pelo crime de golpismo. A análise do caso, marcada para os próximos dias, reacendeu as tensões políticas no Brasil e colocou novamente em evidência as disputas entre o ex-mandatário e o Judiciário.

Na última semana, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, anunciou a inclusão do caso na pauta do plenário virtual do STF. O julgamento é fruto de uma série de denúncias relacionadas aos atos antidemocráticos promovidos por apoiadores de Bolsonaro após a derrota nas eleições de 2022.

Entre as acusações, estão discursos que teriam incitado ataques às instituições democráticas e o envolvimento indireto nos episódios de vandalismo ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro.

Em resposta à decisão do STF, Bolsonaro utilizou sua conta em uma rede social para tecer críticas contundentes. "Não demorou nada para marcarem o julgamento. Fizeram isso na velocidade da luz . Parece que quando se trata de mim, tudo anda rápido, mas quando são outros casos, a Justiça dorme", escreveu o ex-presidente.

A menção à "velocidade da luz" faz referência ao embate recorrente entre Bolsonaro e setores do Judiciário. Desde seu mandato presidencial, o ex-chefe do Executivo tem utilizado essa narrativa para questionar decisões desfavoráveis, argumentando que haveria um suposto viés político contra ele. Apoiadores do ex-presidente também adotaram o termo como slogan nas redes sociais, amplificando a retórica de perseguição.

No texto publicado, Bolsonaro ainda afirmou que o Brasil vive "um momento de exceção", onde as leis seriam aplicadas de forma seletiva. Ele conclamou seus seguidores a resistirem contra o que classificou como "abuso de poder". As declarações reforçam a estratégia de manter viva a polarização política, mesmo fora do cargo.

O processo que pode transformar Bolsonaro em réu está relacionado a investigações sobre sua conduta após as eleições de outubro de 2022. Segundo os autos, o ex-presidente teria omitido informações cruciais sobre os atos golpistas organizados pelos seus apoiadores, além de ter feito declarações públicas que alimentaram narrativas infundadas de fraude eleitoral.

O Ministério Público Federal (MPF) já havia se manifestado anteriormente pela aceitação da denúncia contra Bolsonaro, argumentando que suas ações configurariam crime de responsabilidade e ameaça à ordem constitucional. A Procuradoria sustenta que o ex-presidente contribuiu para criar um clima de instabilidade que culminou nos violentos ataques ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal no dia 8 de janeiro.

Se condenado, Bolsonaro poderá ficar inelegível por até oito anos, além de responder por eventuais sanções penais. Para especialistas, o caso marca um dos momentos mais delicados da transição democrática brasileira, testando os limites da accountability judicial e a capacidade das instituições de lidar com crises institucionais.

A proximidade do julgamento intensificou as divisões no campo político e na sociedade civil. Enquanto partidos de oposição e movimentos democráticos celebram a decisão do STF como um passo essencial para a defesa do Estado de Direito, lideranças bolsonaristas têm mobilizado bases para protestos e manifestações em apoio ao ex-presidente.

Para analistas, o caso expõe a fragilidade das instituições frente a narrativas de confronto. "Estamos diante de um teste crucial para a democracia brasileira. A rapidez ou lentidão do processo não deve ser medida apenas pelo calendário político, mas pela capacidade de garantir justiça sem comprometer direitos fundamentais", afirmou a cientista política Maria Clara Couto em entrevista recente.

Por outro lado, críticos do STF argumentam que a celeridade no caso Bolsonaro contrasta com a morosidade em outros processos de repercussão nacional. Essa percepção alimenta desconfianças sobre a imparcialidade do tribunal, tema que segue sendo debatido tanto no meio jurídico quanto nas ruas.

Com o julgamento marcado, todas as atenções estarão voltadas para o posicionamento dos ministros do STF. A expectativa é de que o resultado do processo tenha impacto significativo não apenas na trajetória política de Bolsonaro, mas também no cenário eleitoral de 2026, quando o ex-presidente poderá tentar retornar ao poder.

Enquanto isso, a expressão "velocidade da luz" promete continuar ecoando nas discussões sobre o caso, simbolizando as tensões entre impunidade e justiça, entre o legado autoritário e a construção de um futuro democrático. O Brasil, mais uma vez, se encontra em um momento decisivo, onde as escolhas do presente moldarão profundamente o destino da nação.