Análise: Trump deseja o término da guerra, mas Putin deseja muito mais.
O presidente dos Estados Unidos acredita que o líder russo deseja a paz, mas a Ucrânia e a Europa discordam; compreenda as metas do ex-agente da KGB.
Ricardo de Moura Pereira
3/23/20252 min read


Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou que acredita que Vladimir Putin deseja a paz. A Ucrânia e seus aliados europeus duvidam de sua intenção, mesmo que o líder russo declare que deseja o término do conflito, mas se negou a assinar um acordo quando a alternativa lhe foi proposta. Contudo, o que Putin realmente almeja é muito, muito mais amplo.
O líder russo não disfarçou sua convicção de que a Ucrânia não deveria existir como uma nação autônoma e afirmou diversas vezes que deseja que a Otan retorne ao seu tamanho da época da Guerra Fria. No entanto, acima de tudo, ele anseia por uma nova ordem mundial — e deseja que a Rússia tenha um papel central nela.
Putin e diversos de seus principais aliados surgiram dos remanescentes da KGB, a agência de inteligência soviética. Eles nunca esqueceram o vexame da queda da URSS e não estão contentes com o rumo que o mundo tomou desde aquele período.
Putin ascendeu ao poder durante o caos da década de 1990, quando a economia da Rússia entrou em recessão e precisou ser salva pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial - outro vexame para a outrora superpotência. No entanto, desde 2000, ano em que Putin assumiu a presidência, o crescimento contínuo dos preços do petróleo fez com que a Rússia e muitos russos se tornassem mais ricos do que nunca. E a Rússia possuía uma voz. Foi convidada para o G7 das sete maiores economias globais, que passou a ser conhecido como G8 após sua entrada.
Contudo, isso não foi o bastante para o líder russo, conforme afirmou Kristine Berzina, diretora administrativa do German Marshal Fund dos Estados Unidos, em entrevista à CNN. "Putin estava contente em descartar tudo isso em prol de seus cidadãos, em prol de metas geopolíticas mais elevadas", declarou Berzina. A Rússia foi banida do G8, punida pelo Ocidente e condenada a se retirar do palco mundial devido à sua agressão à Ucrânia.
Berzina afirmou que a Rússia nunca alcançou o suficiente para ser "a oitava no G7"."Isso não se encaixa na percepção da Rússia acerca do seu próprio excepcionalismo." "É o país mais populoso do mundo, o mais abundante em recursos naturais, então como pode ser apenas um dos participantes?", ela esclareceu. Para compreender o objetivo de Putin nas negociações atuais com os Estados Unidos, é crucial recordar que ambos estão dialogando devido à mudança política nos Estados Unidos sob Trump, e não devido a uma alteração significativa no pensamento russo.
Trump deseja o término da guerra o quanto antes, mesmo que isso implique em mais perdas territoriais para a Ucrânia. Isso implica que Putin tem muito a ganhar com as discussões. Trump declarou que "a Rússia detém todas as cartas" na guerra contra a Ucrânia, contudo, o conflito tem estado praticamente inativo nos últimos dois anos. Apesar de a Rússia estar obtendo alguns benefícios, ela não está em vantagem — algo que poderia ser alterado se os Estados Unidos parassem de fornecer armas e informações à Ucrânia.