A primeira insulina semanal para o tratamento de diabetes tipo 1 e 2 foi aprovada pela Anvisa.

Medicamento pioneiro diminui de sete para uma aplicação semanal; ainda não foi definida uma data de lançamento do produto no Brasil.

Ricardo de Moura Pereira

3/10/20253 min read

Ontem, a Anvisa aprovou a primeira insulina semanal global para o tratamento de pacientes com diabetes tipo 1 e 2. A insulina basal icodeca, conhecida comercialmente como Awiqli, é fabricada pela farmacêutica Novo Nordisk, a mesma responsável pelo Ozempic. Em relação à adesão e ao conforto, essa insulina teria um impacto significativo no paciente. Frequentemente, o paciente se esquece ou omite a insulina. As informações disponíveis indicam que quanto menos doses uma medicação possui, maior é a sua adesão ao tratamento. Ademais, as pesquisas indicam uma menor variabilidade na glicose — afirma o endocrinologista Clayton Macedo, docente da Unifesp e presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Hoje em dia, a terapia padrão para indivíduos com diabetes tipo 1 envolve o uso de insulinas basais (de ação lenta), administradas uma vez ao dia, e insulinas de ação rápida ou ultrarrápida durante as refeições. Por outro lado, os pacientes com diabetes tipo 2 que precisam de insulina utilizam somente a insulina basal. A nova terapia substitui precisamente a insulina basal, administrada diariamente. Assim, indivíduos com diabetes tipo 1 ainda necessitariam de injeções de insulina rápida ou ultrarrápida antes das refeições, mas não precisariam mais de injeções diárias de insulina basal, tal como acontece com os pacientes com diabetes tipo 2.

Priscilla Mattar, vice-presidente da área médica da Novo Nordisk no Brasil, afirma que a aprovação de Awiqli️ no Brasil é um exemplo concreto de como podemos simplificar e aprimorar o tratamento do diabetes. Esse novo medicamento permite diminuir de 7 aplicações semanais para 1, ou seja, de 365 para 52 aplicações em um ano.

A diabetes é uma condição na qual a glicose no sangue se encontra elevada, seja por incapacidade do corpo de produzir insulina (diabetes tipo 1) ou por insuficiência na produção ou uso eficaz desta (diabetes tipo 2). O Awiqli funciona de maneira semelhante à insulina natural, auxiliando na entrada de glicose nas células, regulando a glicose no sangue e minimizando os sintomas e complicações do diabetes.

Macedo esclarece que a eficácia prolongada do fármaco ocorre por causa de uma alteração na estrutura molecular da insulina.

A insulina considerada normal possui 51 aminoácidos. No icodeca, três aminoácidos substituíram enzimas responsáveis pela degradação da insulina, tornando-a mais resistente. Ademais, ele possui um ácido graxo incorporado que torna essa insulina mais solúvel, facilitando sua penetração nos tecidos e prolongando sua ação. Macedo explica que é como se você permitisse que o corpo acumulasse um estoque dessa insulina para ser liberada.
Awiqli foi analisado em 582 adultos com diabetes tipo 1. A insulina semanal demonstrou ser tão eficaz quanto a insulina diária degludeca. Em relação aos pacientes com diabetes tipo 2 - a variante mais frequente da doença, que nem sempre requer insulina - as pesquisas incluíram mais de 3.500 indivíduos. Os achados também indicaram que a eficácia do tratamento foi comparável à das insulinas degludeca ou glargina, ambas administradas diariamente. Segundo a Novo Nordisk, a eficácia do medicamento foi comprovada em pacientes de diversos perfis, incluindo aqueles com problemas renais.

Segundo a EMA, entidade responsável pela regulação de medicamentos na União Europeia, as reações adversas mais frequentes associadas ao Awiqli (que podem afetar mais de 1 em cada 10 indivíduos) incluem hipoglicemia (níveis baixos de glicose no sangue). Esse efeito adverso seria mais frequente em pacientes com diabetes tipo 1 do que com a insulina de rotina. Contudo, a Novo Nordisk garante que, seja para diabetes tipo 1 ou tipo 2, o tratamento não revelou um aumento expressivo de reações adversas severas, como hipoglicemia.

De acordo com Macedo, há pacientes que, naturalmente, correm um risco maior de hipoglicemia. Em tais situações, seria necessário um maior cuidado e supervisão, porém não haveria contraindicação.
Uma pesquisa revelou que quando a pessoa acompanha seu diabetes e o tratamento é personalizado, com monitoramento constante dos níveis de açúcar no sangue, não ocorre um aumento no risco de hipoglicemia — destaca o especialista em endocrinologia.

Fonte O Globo